segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Se te acomete
uma meta,
cometa,
erre, reverbere.

Na hora h
fatal a gagueira
e o contrário
é o eco.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Mesmo leve
minha paz
me move,
se move e me encaminha,
pai, carinho,

mesmo leve,
minha paz tem andado
sólida.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

sexta-feira, 24 de agosto de 2012


                                Como voltar no tempo


                                Esqueça-o sem culpa.
                                Se ele pudesse ou se fosse mulher é certo que faria o
                                                                                                                         [mesmo.
 
                                Não coloque nada em seu lugar,
                                nenhum objeto decorativo.
                                (Ninguém).


                                                        Jogue
                                            fora
                               suas


lembranças.


                                Pegue livros e sapatos que ele tenha dado de presente
                                e queime na cenográfica praça central da cidade.

                                E vá fazer o que gosta na vida
                                - quem sabe se apaixone
                                aquele que você queria
             
                                antes desse amor
 
                                que, pra ser sincera,
                                nunca existiu.

terça-feira, 31 de julho de 2012

achados


em cada parte do seu corpo uma memória
da minha vida.

cada parte
uma lembrança

de instantes
antes
de te conhecer.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

sábado, 9 de junho de 2012

um dia

Sobrevoar Vitória
foi como te ver nu.
Bicho forjado por mar céu e morro,

(Fui íntima do cheiro da  cidade que não havia visto.)

E atinava para o possível: você não estava lá.

À parte disso,
após tantos  (tangos) anos,
naquele dia
o que conheci
foi você.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Estrada, estrada,
alarga
ao largo
de um cara que não diz o que quer.

Alarga, alarga,
estrada
- ao nada :
ele não sabe o que quer.

Mas
seja qual for
teu significado,
estrada,
a vida é carretera,

é caminhada o amor.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A última palavra é sempre a do poeta mesmo que alguém diga algo depois...


Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?

domingo, 24 de julho de 2011

Por que você não é o que parece?
Por que você não é o que parece?

MInha família
O sonho em que eu era feliz.

Não é você.
Mas é assim que eu te sinto.

domingo, 10 de julho de 2011

Inventar-se

Amanhã
é palavra que se mastiga
com muita saliva,
com saúde
se deglute,
se engole mas depois
se cospe, tosse,
expele
isto pela manhã
sobre a própria pele,
para viver devorar
as palavras,
e digerir o dia pra lançar
longe, preciso

a excreção
já a vontade
já um cuspe
semente

o desejo.

um cuspe
um segredo
do amanhã
seguinte.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Aquela horinha logo antes do sol nascer.

Olho para a rua e não a reconheço: ainda bem.
Madrugam as possibilidades.

Apenas lembro que a lua existe,
minúscula fenda.

Mas onde cabe toda a luz desse planeta,
sacro-reflexo,

que sugere as silhuetas 
para além do último poste
e de minha estagnação.

terça-feira, 12 de abril de 2011

domingo, 3 de abril de 2011

Floating

Sobrevoo.
Pairo
vou
e não paro 
nunca mais.
por hoje,

Por esta hora
leve
entregue
a tudo o que é próprio ao ar

sem deixar de pertencer à terra

quarta-feira, 23 de março de 2011

Absoluta

Já sou tua
mas não digo,
nem te chamo,
e você escuta.

É sem luta
que te amo,

meu amor sem nome,
a paz é muda.

Fernando Pessoa

    Eu amo tudo o que foi, Tudo o que já não é, A dor que já me não dói, A antiga e errônea fé, O ontem que dor deixou, O que deixou alegria Só porque foi, e voou E hoje é já outro dia.
    Fernando Pessoa, 1931.
         [Poesias Coligidas]

Fernando Pessoa

    Aquele peso em mim - meu coração.
    Fernando Pessoa, 1932

à noite, meio-dia

Não,
é mentira, todos,
a cidade inteira
não dorme: pulsa,
e eu vou

a qualquer lugar onde pouse,
repouse, e assim acorde
dessa vigília
onde todos vivem,

vigília onde todos dormem.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Habitantes

Não podia dormir.

Tua
fertilidade
em mim.

E morava nesta sua casa, uma noite só: um lugar totalmente desconhecido:
Eu nunca te vi.
Não te odeio,
não te desgosto.
O mundo todo
que não sei
é você
a meu lado.

Que nasce
de dentro,

a quem amo
pra fora,
a quem amo pra fora e além de mim,
pra fora
e muito além de você.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Me invade
alarga,
me arromba,
meu arroubo,
eu corro, corro,
sem sair do lugar:
você nunca
mais
vai deixar de me amar.


Meu arrombo,
minha arroba,
medida sem tamanho,
eu corro a você
mas
não te
deixo
entrar.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O amor estava no espaço oco sob as
tábuas do taco onde eu me deitava
in loco, em lótus, um feto, algo concreto, concretista, improvável,
estável
e estática,

impossível,
torta
eu me deitava morta.

O amor me olhava,

você me olhou:
e eu estava no espaço oco
sob as tábuas do taco onde antes o amor estava.

Mas esse amor se deitava
eu não estava
só.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Amor solto.
Cai com a chuva,
fica no chão.

Escorre, escorrega,
mas depois sobe,
carrega as nuvens e se encarrega
de outra vez
nos banhar com
o amor solto.
Cai com a chuva,
fica no chão.

Escorre, escorrega,
mas depois sobe,
carrega as nuvens e se encarrega
de outra vez
nos banhar

terça-feira, 30 de novembro de 2010

permeável

esponja.
fios perpassam por mim,
vias,
idas opostas.
chute soco grito,
tudo perpassa.
Menos os sorrisos,
o sorrisos ficam.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

tamarindo.
solidão caroço de ameixa.
azedo doce azedo.
mas dentro dele tem um ponto.
um deusinho.
um 'adeus',
um aleph
de onde sai
esperneando
o universo - tudo - todo.
numa longa espécie de parto de uma vida inteira.

sai tudo o que conheço
e com muito mais prazer
o que não conheço.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

organismo

escrevo a esquizofrenia.
no caos organizo o caos:
entropia
viva flor
recém despontada.
não entre aqui
você,
que me vigia
ou come
e vai embora.
antes: saia.
deixe-me só
no caos
organismo vivo
-e contente -
pra onde o desconhecido vem
caos, entropia,
onde sozinha me organizo
flor desabrochada.
Noite em que a vida está guardada sob minha barriga.
Desejo simplesmente tudo.
Só me satisfaria com tudo, mas careço de qualquer amor.
Estão guardados, latentes, sob um órgão ou sob umnaco de pele.
Na dúvida, amo amores passados.
Na falta, planejo idas futuras.
Ver terras, estrada
Todo ar que aspiro é meu desejo de ver gente
e o mesmo ar que solto é minha vontade de ser bicho.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Entrar pelas narinas
ou ouvidos.
Introjetar-se inteiro
por dentro do outro.
Pela parte interna, mucosas.
(Fluídos linfáticos, plasmáticos.
Genitais.)
Caber-se todo.
Ir preenchendo cada curva extrema
da endoderme.
Os dedos côncavos,
costelas que abraçam.
Pedir espaço pra todas as veias e artérias.
Pra cavidade ventral abdominopélvica - a parede pros órgãos
- estômago, duodeno -
que também partilham este corpo.
E dar prazer.
O mais completo, íntegro, livre, absoluto prazer.

sábado, 2 de outubro de 2010

a graça

  não tem jeito.
qualquer pessoa que eu já amei eu vou amar pelo resto da vida.
qq pessoa.
qq pessoa é amável.
qq pessoa é amor
pessoa é humana, qq pessoa humanável
qq pessoa é humanamor
e qq um é humor

sexta-feira, 1 de outubro de 2010



Ai cidade cinza e chata,
não me dá graça nem ânimo.
Fica de trapaça com a felicidade, mas se passa
que essa cidade
eu amo.


segunda-feira, 27 de setembro de 2010

amor. na pele e no umbigo que saltou pra fora e aponta pro bico do mundo: talvez aquilo que desponta no céu de cada outro umbigo.

domingo, 26 de setembro de 2010

À toa, São Paulo em vão.
do acorde e garoa,
terra boa
da chuva ruim,
da acidez e do acid jazz na nossa noite de básico
amor
e música
com tudo que há: melodia, baixo meloso, clima frio e muito tesão.

sábado, 25 de setembro de 2010

Eu-Vazio

A caneta é proteção
minha única
ação
precavida.
A caneta e o papel tinta
- música interna
instantânea explosiva -
que não fala jóias
que não fala coisa/coisa
mas fala de mim - nada -
e me acaricia.

domingo, 19 de setembro de 2010

delírios


 Me gusta la realidad,

Ombros baixos,
pés no chão.
 Planta que nasce no chão quente:
Com gosto – palato – e mãos
Se faz amor

sábado, 18 de setembro de 2010

domingo, 12 de setembro de 2010

boa a noite fria
bom teu corpo meu
tato.
bom o frio.
- boa noite!
bom quando a noite fria
gelada
vem
(teu corpo)
e nos esquenta.

sábado, 11 de setembro de 2010

vassourada

vc: mau-humor em casa, figura cinza, chuvisco, nevasca nos nossos dias quentes de sol bunda e carnaval.
sombra, desenho - contorno ôco, silhueta fraca. vc-rastro de pó (capaz de cegar aquele que para pra te ver).

veja: vai tomar banho de cheiro que te acalma e limpa. vai se banhar no atlântico. que te faz bem, não cabe mais essa fumaça/vc dentro do que há de bom. só o ar já te espanta. vá se tratar, dá uma caprichada. ok?
desse jeito vc pode parar de ser um xurume nos pés de todo mundo que passa sorrindo pela sua rua.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

quero chegar a um lugar
a esse lugar de espírito,
impulso impetuoso
onde num estalo
volto atrás
pra ver o desconhecido: o mesmo velho lugar.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

a largada

Uma voz me diz não;

qualquer voz me diz não
e assim posso ir.
qualquer voz me diz não
e me deixa rir.
Como essa que jaz,
agora que eu fui,
jaz abandonada
dentro de mim.

Rio

Ser estrangeira,
Ivan Lessa,
dançar samba e salsa,
com a liberdade
de quem nada lhe importa.
À toa na vida,
mas com um compromisso
o claro prazer
no país da risada.
(de ogalodavizinha.blogspot)

Rio:
me comove.
Rio:
te aprochega
Rio nos cola.
Rio: a cidade ri.
Rio nos une,
amassa,
Rio junto,
e a gente gargalha.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Cidade amada,
querida cidade,
fedida,
encardida,
e cinza, cidade
que me quer
se dela gosto,
cidade que
se transforma,
se transmuta,
e nos trangride,
sempre me invade
e devolve, me lança a si:
a um vômito de cidade,
esse carrossel,
e eu reparida,
com a minha alma-cidade,
que se transforma,
se transmuta,
me transgride,
e me invade.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

sólido-líquido-gasoso

Sustentar a alegria.
como líquido, escorre.
sustentá-la entre as mãos
e voar nela.
Coração
solto,
na borda, limite,
querendo,
- pulsando, já amando –
dar amor.
Coração
beira,
tremula,
(tremedeira),
bamba, ébrio,
bambeia,
coração maior que eu.
Fremula
tremelica,
coração bate,
coração soca,
e nessa busca o coração
- a culpa é dele –
faz andar o corpo inteiro.

Bons lençóis

Corpo
corpo pede,
come-
nos,
consome-nos
arde, teima,
nús.

não morre, não para,
se vivo,
fala,
enquanto a gente não faz um outro corpo
- nosso nó -
que vai aliás
tambem gemer,
gritar, falar pra burro, viu?

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Tur bilhão em poucos mil minutos

Desse jeito vai dar! e depois que farei com com tudo na mão? vai dar, vai dar e é isso que esse ar seco e poluído me diz na tarde quente num texto cuspido, numa esperança tão grande que é de encher o corpo, o quarteirão, as horas seguintes, semana, mês, e todas as desgraças que vierem.
Vou ficar com um monte dessas pendengas que pulam e gritam pra serem resolvidas. Que se metem no meio da rua, que se penduram nos cabelos, que estão na água do banho, no travesseiro e no cafézinho preto da manhã. Complicadas, pendengas que pulam e gritam pra serem resolvidas e pra darem também prazer, que é o próprio jeito, fazer o quê, de viver bem essa vida.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

domingo, 22 de agosto de 2010

porque o que se cria também - dado aos outros - faz ainda parte de nós. porque criação é trabalho nosso, e porque agimos, e porque existimos sempre em relação, e a relação é agir.
e só porque é: porque criamos e somos.
vai dar, faremos dar,
dará porque daremos. pra nós, pros outros, na cama, na rua,
a vida vai.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Tenho fé. Creio na arte, que trabalha o incrível.

não-vomitados (retirados de ogalodavinha.blogspot.com)

Coisa sem jeito, imprestável,
é te chamar, criatura que não presta,
pra gente (e eu também não presto)
fazer um esforço em vão.

Mas já adianto sem pagamento: é o melhor serviço que eu conheço.



................



a escrita é além;
você me escolhe ou escolhe a você, meu bem, e eu escolho um lápis
que escreva
"também".

ânsia

E se eu te contar que você não me ganha, que não me conquista, que eu não tenho nada com você? que queria seu corpo quentinho agora só pra me aconhegar e dormir?
e que seus olhos são opacos, e que tenho muito melhores coisas pra fazer da minha vida e só quero ficar com vc porque sinto conforto? e que hoje é terça-feira mas essa cidade é cheia e tem coisas lindas rolando e só porque não posso sair é que teu pensamento me invade,
e dissesse que você é travado, triste? (má, eu?) mas que só teu cheiro ja é uma coisa que me deixa tranquila?
e se eu falar que você não me interessa? - mas é meu corpo quem treme de tesão?


mesmo assim,
com isso tudo,
esse troço é amor.

domingo, 15 de agosto de 2010

Seu vulto

Parecia longe,
mas você.
(como sempre vulto,
como sempre longe)

Parecia que era frio
o tempo,
como sempre frio.

Como sempre você,
meu vulto,
que parecia frio
mas veio me ver.

sábado, 14 de agosto de 2010

prende o ar.

Anisedade não é coisa que se resolve,
ansiedade faz,
é ânsia de fazer;
faz literatura expressa medíocre,
faz comida e come,
faz planos pra semana,
faz. Lê.
Passeia,
faz sobremesa, fas as unhas, faz as pazes;
faz amor, filhos se quiser.
Ansiedade espera acontecer,
nunca parada,
ela "faz a hora"?
espera e faz a espera ser rica e boa
- a ânsia faz a caminha -
e deixa o olho vivo
corpo vivo
agitado
até que se caminhe para o chão,
chão que vem depois da caminhada
- ânsia fez a caminhada -
e chega uma coisa que sustenta
e a ânsia fica de lado,
num instante,
pra se transformar
em um tempo
onde o corpo
- que fez -
consegue

não ser ânsia,
e então
(só então):
respirar.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Gaivota.

Eu gosto de você velho.
enrugado, vivido, estratificado.
já parado, mas sofrido, rodado,
tranquilo e marcado,
barco carcomido,
carcado.

onde eu mesma
posso
pousar.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Então voltou.
O vamo que vamo, vai que vai, cadê,
rima, chão quente, diz-que-diz,
isso é: paixão.
até parar nalgum porto meu
próprio
tesão.

curar

Não quero e não me venha com essa sugada, esse trambique, esse truque teu, ó, amigo, essa é velha e velha já estou eu, no teu engodo.
Que essa história foi,
eu já fui, e tu tá em Marte, Roma, um lugar qualquer assim,
a três pés ou milhas acima do nível do chão.
Elevação? ou alienamento, seu alienígena,  lunático, não chegue pra cá com teu escarro e teu nada-prático  bom-senso de mal humor.

...
E acabadas as minhas reclamações manhentas, volto os pés à terra.  Vejo que não me vale entristecer nessa birra.
Minha criança, se é o caso chore, como eu chorei,
e vamos nos calar tranquilos do jeito que está o céu,  do jeito que está    provado
- como as nuvens pretas lá de fora -

que esa tormenta
num tufãozinho
   
passa.
Hoje, como em qualquer dia, o frio gela só os ossos, não chega à parte boa da espinha.
hoje, como em qualquer dia, o frio que paralisa a articulação não barra minha caminhada.
hoje, como em qualquer dia, o vento é ameno, e pode ou não me resfriar -
o clima é só o clima - e a temperatrura que faz no corpo escolho eu, escolhemos cada um de nós.
Como hoje, dia branco e qualquer, em que a gelidez da rua atinge os ossos, as juntas - congela até os ligamentos todos da estrutura corpórea, as pontas das orelhas,
e, ventando, (é um espirro), passa longe do espírito.