segunda-feira, 30 de agosto de 2010

sólido-líquido-gasoso

Sustentar a alegria.
como líquido, escorre.
sustentá-la entre as mãos
e voar nela.
Coração
solto,
na borda, limite,
querendo,
- pulsando, já amando –
dar amor.
Coração
beira,
tremula,
(tremedeira),
bamba, ébrio,
bambeia,
coração maior que eu.
Fremula
tremelica,
coração bate,
coração soca,
e nessa busca o coração
- a culpa é dele –
faz andar o corpo inteiro.

Bons lençóis

Corpo
corpo pede,
come-
nos,
consome-nos
arde, teima,
nús.

não morre, não para,
se vivo,
fala,
enquanto a gente não faz um outro corpo
- nosso nó -
que vai aliás
tambem gemer,
gritar, falar pra burro, viu?

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Tur bilhão em poucos mil minutos

Desse jeito vai dar! e depois que farei com com tudo na mão? vai dar, vai dar e é isso que esse ar seco e poluído me diz na tarde quente num texto cuspido, numa esperança tão grande que é de encher o corpo, o quarteirão, as horas seguintes, semana, mês, e todas as desgraças que vierem.
Vou ficar com um monte dessas pendengas que pulam e gritam pra serem resolvidas. Que se metem no meio da rua, que se penduram nos cabelos, que estão na água do banho, no travesseiro e no cafézinho preto da manhã. Complicadas, pendengas que pulam e gritam pra serem resolvidas e pra darem também prazer, que é o próprio jeito, fazer o quê, de viver bem essa vida.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

domingo, 22 de agosto de 2010

porque o que se cria também - dado aos outros - faz ainda parte de nós. porque criação é trabalho nosso, e porque agimos, e porque existimos sempre em relação, e a relação é agir.
e só porque é: porque criamos e somos.
vai dar, faremos dar,
dará porque daremos. pra nós, pros outros, na cama, na rua,
a vida vai.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Tenho fé. Creio na arte, que trabalha o incrível.

não-vomitados (retirados de ogalodavinha.blogspot.com)

Coisa sem jeito, imprestável,
é te chamar, criatura que não presta,
pra gente (e eu também não presto)
fazer um esforço em vão.

Mas já adianto sem pagamento: é o melhor serviço que eu conheço.



................



a escrita é além;
você me escolhe ou escolhe a você, meu bem, e eu escolho um lápis
que escreva
"também".

ânsia

E se eu te contar que você não me ganha, que não me conquista, que eu não tenho nada com você? que queria seu corpo quentinho agora só pra me aconhegar e dormir?
e que seus olhos são opacos, e que tenho muito melhores coisas pra fazer da minha vida e só quero ficar com vc porque sinto conforto? e que hoje é terça-feira mas essa cidade é cheia e tem coisas lindas rolando e só porque não posso sair é que teu pensamento me invade,
e dissesse que você é travado, triste? (má, eu?) mas que só teu cheiro ja é uma coisa que me deixa tranquila?
e se eu falar que você não me interessa? - mas é meu corpo quem treme de tesão?


mesmo assim,
com isso tudo,
esse troço é amor.

domingo, 15 de agosto de 2010

Seu vulto

Parecia longe,
mas você.
(como sempre vulto,
como sempre longe)

Parecia que era frio
o tempo,
como sempre frio.

Como sempre você,
meu vulto,
que parecia frio
mas veio me ver.

sábado, 14 de agosto de 2010

prende o ar.

Anisedade não é coisa que se resolve,
ansiedade faz,
é ânsia de fazer;
faz literatura expressa medíocre,
faz comida e come,
faz planos pra semana,
faz. Lê.
Passeia,
faz sobremesa, fas as unhas, faz as pazes;
faz amor, filhos se quiser.
Ansiedade espera acontecer,
nunca parada,
ela "faz a hora"?
espera e faz a espera ser rica e boa
- a ânsia faz a caminha -
e deixa o olho vivo
corpo vivo
agitado
até que se caminhe para o chão,
chão que vem depois da caminhada
- ânsia fez a caminhada -
e chega uma coisa que sustenta
e a ânsia fica de lado,
num instante,
pra se transformar
em um tempo
onde o corpo
- que fez -
consegue

não ser ânsia,
e então
(só então):
respirar.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Gaivota.

Eu gosto de você velho.
enrugado, vivido, estratificado.
já parado, mas sofrido, rodado,
tranquilo e marcado,
barco carcomido,
carcado.

onde eu mesma
posso
pousar.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Então voltou.
O vamo que vamo, vai que vai, cadê,
rima, chão quente, diz-que-diz,
isso é: paixão.
até parar nalgum porto meu
próprio
tesão.

curar

Não quero e não me venha com essa sugada, esse trambique, esse truque teu, ó, amigo, essa é velha e velha já estou eu, no teu engodo.
Que essa história foi,
eu já fui, e tu tá em Marte, Roma, um lugar qualquer assim,
a três pés ou milhas acima do nível do chão.
Elevação? ou alienamento, seu alienígena,  lunático, não chegue pra cá com teu escarro e teu nada-prático  bom-senso de mal humor.

...
E acabadas as minhas reclamações manhentas, volto os pés à terra.  Vejo que não me vale entristecer nessa birra.
Minha criança, se é o caso chore, como eu chorei,
e vamos nos calar tranquilos do jeito que está o céu,  do jeito que está    provado
- como as nuvens pretas lá de fora -

que esa tormenta
num tufãozinho
   
passa.
Hoje, como em qualquer dia, o frio gela só os ossos, não chega à parte boa da espinha.
hoje, como em qualquer dia, o frio que paralisa a articulação não barra minha caminhada.
hoje, como em qualquer dia, o vento é ameno, e pode ou não me resfriar -
o clima é só o clima - e a temperatrura que faz no corpo escolho eu, escolhemos cada um de nós.
Como hoje, dia branco e qualquer, em que a gelidez da rua atinge os ossos, as juntas - congela até os ligamentos todos da estrutura corpórea, as pontas das orelhas,
e, ventando, (é um espirro), passa longe do espírito.